A relação entre enxertos ósseos e peri-implantares

A relação entre enxertos ósseos e peri-implantares

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Enxertos ósseos podem constituir um potente indicador de risco para o início das doenças peri-implantares? Elcio Marcantonio Jr. e Carolina Malzoni analisam o tema.

A peri-implantite é caracterizada por uma condição patológica que ocasiona inflamação da mucosa peri-implantar e subsequente perda progressiva do tecido ósseo de suporte¹.

O principal fator etiológico da peri-implantite é o biofilme, mas o curso clínico da doença pode sofrer influência de outros fatores, como histórico de doença periodontal, tabagismo e condições sistêmicas2. Alguns estudos clínicos prévios3-4 ainda evidenciam que enxertos ósseos podem constituir um potente indicador de risco para o início das doenças peri-implantares, o que causa grande preocupação, já que procedimentos de enxertia óssea, muitas vezes, são indispensáveis na Implantodontia por permitirem a reabilitação implantossuportada de maxilares atróficos. Contudo, ainda não existe na literatura um consenso sobre a relação entre enxertos ósseos e peri-implantite, uma vez que estudos recentes têm exibido resultados que descartam a existência desta associação.

Uma recente revisão sistemática e metanálise5 concluiu que procedimentos de enxerto ósseo estão associados com alta taxa de sobrevida de implantes e adequada saúde peri-implantar ao longo do tempo. Outro estudo clínico retrospectivo6 acompanhou 75 pacientes que receberam implantes em áreas enxertadas durante dez anos. Dos 182 implantes instalados, dez apresentaram peri-implantite, no entanto, estes valores não foram significativos para que uma relação entre área enxertada e peri-implantite pudesse ser considerada.

Esta divergência entre os resultados das pesquisas pode ser explicada pela presença ou não de consultas de manutenção destes pacientes. Nota-se que nos primeiros trabalhos, nos quais a relação entre peri-implantite e enxertos ósseos foi encontrada3, os pacientes não receberam terapia peri-implantar de suporte, diferente das pesquisas mais recentes, nas quais todos os pacientes após a instalação de implantes iniciaram um programa de manutenção com retornos periódicos individualizados ao perfil de cada um e radiografias periapicais foram realizadas anualmente. Este acompanhamento auxilia na prevenção e diagnóstico precoce de alterações peri-implantares.

Nota-se, portanto, que retornos periódicos dos pacientes para terapia peri-implantar de suporte são um grande aliado na prevenção das doenças peri-implantares, permitindo diminuir a prevalência de casos, mesmo em regiões antes consideradas indicadoras de risco para a peri-implante.

REFERÊNCIAS

  1. Berglundh T, Armitage G, Araujo MG, Avila-Ortiz G, Blanco J, Camargo PM et al. Peri-implant diseases and conditions: consensus report of workgroup 4 of the 2017 World Workshop on the Classifi cation of Periodontal and Peri-Implant Diseases and Conditions. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):286-91.
  2. Quirynen M, De Soete M, van Steenberghe D. Infectious risks for oral implants: a review of the literature. Clin Oral Implants Res 2002;13(1):1-19.
  3. Canullo L, Peñarrocha-Oltra D, Covani U, Botticelli D, Serino G, Penarrocha M. Clinical and microbiological fi ndings in patients with peri-implantitis: a cross-sectional study. Clin Oral Implants Res 2016;27(3):376-82.
  4. Benic GI, Hämmerle CH. Horizontal bone augmentation by means of guided bone regeneration. Periodontol 2000 2014;66(1):13-40.
  5. Sanz-Sánchez I, Carrillo de Albornoz A, Figuero E, Schwarz F, Jung R, Sanz M et al. Effects of lateral bone augmentation procedures on peri-implant health or disease: a systematic review and meta-analysis. Clin Oral Implants Res 2018;29(suppl.15):18-31.
  6. Chiapasco M, Tommasato G, Palombo D, Del Fabbro M. A retrospective 10-year mean follow-up of implants placed in ridges grafted using autogenous mandibular blocks covered with bovine bone mineral and collagen membrane. Clin Oral Implants Res 2020 (DOI:10.1111/clr.13571).