Marco Bianchini traz informação de um grupo de pesquisadores que abordam fatores importantes, como platform switching, região cervical do implante polida e conexão protética estável.
A perda óssea peri-implantar inicial é definida por alguns autores como sendo uma reabsorção óssea ao redor da região cervical do implante dentário, que ocorre dentro de aproximadamente um ano após a ativação protética. Devido à sua frequência, certa quantidade de perda óssea peri-implantar é tolerada pelos clínicos e vem até mesmo se tornando quase uma regra para a Implantodontia.
Em 1896, Albrektsoon e colaboradores já afirmavam que 1,5 mm de perda óssea no primeiro ano após o carregamento protético poderia ser considerado um sucesso, se esta perda óssea posterior não ultrapassasse 0,2 mm anualmente. Embora esse achado científico tenha ocorrido há três décadas, muitos profissionais ainda a mantêm como uma regra normal de remodelação óssea.
Entretanto, sabemos que reabsorções ósseas precoces podem deflagrar diversos problemas e, certamente, causarão insegurança na maioria dos clínicos, quando estes observarem que seus implantes não apresentam uma boa estabilidade óssea peri-implantar ao longo dos anos. Por esse motivo, o nosso dever é buscar a menor perda óssea peri-implantar possível, depois que o implante foi ativado proteticamente. Mas como controlar estes fenômenos biológicos de reabsorção, remodelação e remineralização óssea?
Existe um grupo de pesquisadores, liderados pelo professor Tomas Linkevicius, da Lituânia, que vem publicando pesquisas muito interessantes a respeito deste tema. Este grupo acredita que, após um ano de carregamento protético, o osso amadurece e se torna mais denso. Desta forma, as forças oclusais, que inicialmente causariam perda óssea, não seriam grandes o suficiente para evocar uma reabsorção óssea adicional. Dentro deste contexto, surge uma questão: é possível não apenas impedir a reabsorção óssea, mas também antecipar a remineralização óssea com aumento do osso ao redor dos nossos implantes?
Generalizando, todos nós sabemos que a desmineralização é um processo causado pela inflamação, quando os íons minerais da hidroxiapatita (AH) são removidos dos tecidos duros, principalmente do osso, gerando alterações na matriz óssea e, consequentemente, a perda óssea. A inflamação também promove uma hiper-ativação dos osteoclastos (responsáveis pela reabsorção óssea), além de afetar negativamente a função dos osteoblastos (responsáveis pela neoformação óssea). Já a remineralização pode ocorrer quando, de alguma forma, a função dos osteoblastos é aumentada, e isto pode ocorrer quando controlamos a inflamação peri-implantar.
Sabemos que existem várias formas de se controlar a inflamação peri-implantar. A mais conhecida é através do controle do biofilme. Contudo, existem outros fatores que contribuirão para o controle da inflamação peri-implantar e a consequente perda óssea ao redor dos implantes. Estes fatores, de uma forma indireta, acabam protegendo a região cervical do conjunto implante/prótese, evitando que a inflamação se propague e venha a desencadear um processo de perda óssea progressiva.
Dentre estes fatores, os mais importantes considerados pelo grupo do professor Linkevicius são: platform switching, região cervical, ou colo do corpo do implante, polida, conexão protética estável e espessura vertical suficiente de tecidos moles ceratinizados ao redor do colo do implante. Observando esses fatores, parece ser possível alcançar uma “perda óssea zero” ou uma remineralização óssea posterior a alguma perda óssea precoce.
A remineralização óssea parece ser possível de ocorrer ao redor de implantes dentários com histórico de perda óssea inicial, após o carregamento protético. Entretanto, ainda existe uma incerteza considerável sobre o que exatamente ocorre no processo histológico da matriz óssea na região do colo dos implante dentários. Enquanto pesquisas conclusivas não aparecem, parece ser razoável admitir que a combinação de vários fatores positivos, como pescoço cervical liso, espessura vertical adequada de mucosa ceratinizada e pilares protéticos bem adaptados, pode evitar uma perda óssea precoce ou facilitar uma possível remineralização.
Referências:
- Puisys A, Auzbikaviciute V, Minkauskaite A, Simkunaite-Rizgeliene R, Razukevicius D,Linkevicius R et al. Early crestal bone loss: is it really loss?. Clin Case Rep 2019;7(10):1913-5.
- Linkevicius T. Zero bone loss concepts. Quintessence Publishing 2019.
“Pois assim como o céu está elevado acima da terra, assim é grande a misericórdia de Deus para com os que o temem. Assim como está longe o oriente do ocidente, assim Ele afasta de nós as nossas transgressões. Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó.” (Salmos 103:11-14)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia