Bioadesivo na cicatrização de áreas doadoras de tecidos moles

Bioadesivo na cicatrização de áreas doadoras de tecidos moles

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Marco Bianchini discute a utilização de um novo bioadesivo de tecido projetado para ser aplicado em situações de feridas no palato.


A cicatrização e tratamento de lesões é uma arte tão antiga quanto a existência do ser humano. A necessidade de um método de fechamento para lesões cutâneas é estudada há séculos, na busca de uma maneira que possa simplificar a cicatrização em termos de tempo, material de sutura e, ainda, que seja o mais indolor possível. Uma breve revisão da história sobre cirurgia, com particular referência às suturas, descreve os primeiros relatos do fechamento de incisões abdominais em múmias, usando ligaduras de couro de aproximadamente 3.000 anos A.C., com o uso de suturas sintéticas, grampos e fitas adesivas.

Desde esses tempos remotos, o conceito básico de fechamento da ferida não mudou muito. Até hoje, encontramos os mesmos princípios de aproximação das bordas da lesão e minimização de tensões, para um bom resultado estético e funcional. A maioria dos cirurgiões concorda que o tempo cirúrgico, o trauma e a dificuldade de acesso são fatores importantes nas complicações pós-operatórias.

Os enxertos de tecido mole têm sido adotados para diferentes fins cirúrgicos, como aumento do volume de tecido mole, cobertura de recessão dentária/implante, entre outros. Na literatura, existem diferentes técnicas propostas para obtenção destes enxertos, com suas diversas variações em diferentes áreas, como tuberosidade maxilar, áreas edêntulas ou em uma grande área doadora de tecidos, como é o palato, que é o mais comum, devido à quantidade de tecido disponível.

O período pós-operatório, após a remoção cirúrgica do enxerto do palato, é frequentemente caracterizado por edema, sangramento e dor. A sutura na área palatina não é fácil, por conta da área visual limitada, do tempo consumido e depende, ainda, das habilidades cirúrgicas do profissional. Além disso, os movimentos da língua podem pressionar a área da ferida e a sutura, reabsorvível ou não reabsorvível, podendo causar acúmulo de alimento e irritação ao paciente e, às vezes, a necessidade de uma consulta adicional para a remoção da mesma antes do período programado.

Pesquisas em tecnologia de polímeros sintéticos vêm sendo executadas há vários anos (desde 1970) e forneceram aos cirurgiões adesivos teciduais baseados em material de cianoacrilato (CA) com resistência à tração e facilidade de uso. O adesivo CA é um composto sintetizado feito de uma condensação de um cianoacetato com formaldeído na presença de um surfactante aniônico.

Mais recentemente, um novo adesivo de tecido foi projetado para ser aplicado nessas situações de feridas no palato: uma mistura ideal de N-butil cianoacrilato e 2-octil cianoacrilato (Periacryl 90HV, Glustitch Inc. Delta, British Columbia, Canadá). O N-butil cianoacrilato contribui para a característica de fixação rápida, enquanto o componente 2-octilo torna o curativo mais flexível e confortável. As figuras 1 a 4 ilustram um caso no qual o Periacryl 90HV foi utilizado.

O cianoacrilato tem várias vantagens sobre os materiais de sutura na cirurgia de tecidos moles: é hemostático, bacteriostático e a sua película adesiva desenvolve rápida polimerização (geralmente 10 segundos), mas pode variar excepcionalmente até 60 segundos em contato com a água, para ativar o grupo hidroxila, que ativa a cristalização do material rapidamente. Assim, temos a rápida formação da “crosta” que protege a área da ferida.

Embora este adesivo seja um pouco mais fraco do que as suturas convencionais de monofilamentos, e também não seja flexível, ele vem sendo utilizado amplamente em países como EUA e Canadá, devido às suas excelentes propriedades cicatrizantes e de proteção da ferida, com diminuição dos sintomas pós-operatórios. Observa-se que a utilização dos bioadesivos diminui sensivelmente a morbidade dos pacientes durante a cicatrização das áreas doadoras de tecidos moles e pode ser uma interessante alternativa para minimizar os sintomas pós-operatórios desses casos.

Colaboração

Mario Eduardo Escobar Ramos

Doutorando em Implantodontia – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

“O Senhor será também um alto refúgio para o oprimido; um alto refúgio em tempos de angústia. Em ti confiarão os que conhecem o teu nome; porque tu, Senhor, nunca desamparaste os que te buscam.” (Salmos 9:9,10)