Como ter certeza de que um dente está realmente com a sua mobilidade aumentada e que esta mobilidade é patológica? Marco Bianchini responde.
Sabemos que todo dente exibe um grau de mobilidade fisiológica, que geralmente é avaliado como a amplitude do deslocamento da coroa resultante da aplicação de uma força definida. Esta mobilidade pode ser fisiológica (normal) ou patológica, quando atinge níveis maiores de movimentação. Desta forma, quando nos deparamos com um dente com mobilidade aumentada, nós imediatamente já suspeitamos que algo está errado. Porém, como teremos a certeza de que um dente está realmente com a sua mobilidade aumentada e que esta mobilidade é patológica?
O método preferido e ainda muito usado para se avaliar o grau de mobilidade de um dente é o método de Miller, que foi descrito na década de 1950. Neste método, o dente é mantido entre os cabos metálicos rígidos de dois instrumentos e movido na direção vestibulolingual ou vestibulopalatal, e a distância movida é estimada visualmente pela pessoa que realiza o exame. A mobilidade é, então, classificada nos graus de zero a três (0-3). O grau zero (0) significa que não há movimento detectável quando a força é aplicada; o grau um (1) indica apenas o movimento dental detectável; o grau dois (2) ocorre quando a coroa do dente move-se até um milímetro em qualquer direção; e o grau três (3) ocorre quando o movimento é de mais de um milímetro em qualquer direção, ou ainda quando os dentes podem ser “intruídos” ou girados nos seus alvéolos.
Utilizando este método de Miller, a maioria dos clínicos acaba condenando dentes com um grau de mobilidade grau 2 ou 3, sem mesmo levar em consideração outros fatores, como forças oclusais excessivas, trauma oclusal e nível de inflamação do periodonto. Torna-se necessário compreender que muitos dentes com periodonto reduzido e sem inflamação podem ser mantidos em boca, mesmo que tenham um grau de mobilidade aumentado.
Em dentes com tecidos periodontais não inflamados, mas com o periodonto reduzido, poderemos ter algumas constatações interessantes. Se a altura destes tecidos de suporte for reduzida, mas a largura do ligamento periodontal for inalterada, deve-se perceber que a amplitude da mobilidade radicular dentro do periodonto restante é a mesma que em um dente com nível normal da altura óssea periodontal. Portanto, a chamada hipermobilidade de um dente periodontalmente saudável com suporte reduzido, mas com largura normal do seu ligamento periodontal, deve ser considerada mobilidade fisiológica do dente. A Figura 1 explica esta relação.
Ainda no que diz respeito a dentes com periodonto não inflamado, mas com mobilidade aumentada, poderemos observar que muitos destes dentes apresentam o alargamento do ligamento periodontal, devido ao resultado de forças uni ou multidirecionais para a coroa, com força e frequência suficientes para induzir a reabsorção das paredes ósseas alveolares nas zonas de pressão. A reabsorção óssea alveolar induzida por essas forças resulta em aumento da mobilidade dentária, mas não na perda de inserção do tecido conjuntivo, independentemente da altura do osso de suporte. É o mesmo princípio usado na Ortodontia. Basta remover a força que as perdas ósseas irão desaparecer.
O problema que ocorre é que, nos estágios finais da doença periodontal, a destruição progressiva dos tecidos de suporte pode ter atingido um nível tão apical que, apesar do tratamento periodontal adequado, ausência de inflamação e do ajuste oclusal, os demais tecidos periodontais não conseguem mais suportar as forças mastigatórias normais e acabam aumentando gradativamente o seu grau de mobilidade até serem completamente esfoliados pelas próprias forças mastigatórias.
Situações como esta só serão solucionadas se realizarmos uma contenção ou esplintagem destes dentes com o periodonto reduzido e saudável. É o que a Ortodontia faz em 100% dos seus casos, esplintando os dentes anteriores inferiores através de contenções na face lingual destes dentes. Obviamente, quando não estamos diante de tratamentos ortodônticos, podemos perfeitamente extrair estes dentes abalados e colocar em seus lugares implantes osseointegrados. Entretanto, é necessário que se faça uma avaliação criteriosa do grau de mobilidade destes dentes, evitando-se condenar dentes que poderiam ser perfeitamente mantidos em boca.
Referência
- Nyman SR, Lang NP. Tooth mobility and the biological rationale for splinting teeth. Periodontology 2000 1994;4:15-22.
“O qual (Jesus) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele.” (Colossenses 1:15,16)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia