Você sabe trabalhar em equipe?

Você sabe trabalhar em equipe?

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Marco Bianchini dá dicas preciosas para os cirurgiões-dentistas atuarem de forma harmoniosa e bem sucedida em policlínicas odontológicas.

Muitos de nós, profissionais da Implantodontia, trabalhamos em clínicas onde colegas que atuam em outras especialidades também trabalham. No mercado da Odontologia, é muito comum a existência de clínicas amplas, que atuam em várias especialidades, para oferecer maior conforto aos pacientes. Isso acontece porque a maioria dos nossos clientes não gosta de se locomover para locais diferentes, a fim de realizar todo o tratamento odontológico que necessitam.

O que ocorre é que geralmente alguém puxa o trem desta empreitada. Ou seja, algum cirurgião-dentista é o líder da clínica. É este cirurgião-dentista que começou a carreira mais cedo, investiu na infraestrutura e na formação acadêmica, realizando cursos de pós-graduação que culminaram com a obtenção de uma interessante carteira de pacientes. Uma vez que este número de pacientes cresceu, e este cirurgião-dentista líder não consegue mais dar conta de tudo sozinho, ele busca colegas para formar uma equipe multidisciplinar.

Normalmente, os colegas que começam a trabalhar com este cirurgião-dentista líder são mais novos, estão iniciando a carreira ou, mesmo mais velhos, têm um pouco de receio de empreender e assumir os riscos de quem resolve deixar de lado um consultório isolado para montar uma clínica maior. Assim, a maioria destes cirurgiões-dentistas parceiros, por não assumirem riscos, acaba deixando algum valor maior para o líder, suposto dono da clínica.

Uma vez que esta parceria vai tomando corpo, a clínica tende a se desenvolver. Todos vão trabalhar, ganhar mais dinheiro, a carteira de clientes vai aumentar e é possível que uma empolgação tome conta da equipe. Entretanto, o crescimento de toda e qualquer empresa demanda investimentos, para que este crescimento se mantenha firme e contínuo. Neste momento, geralmente quem investe é o cirurgião-dentista líder, uma vez que ele, como dono e empreendedor, ganha mais dinheiro do que os outros. E assim a roda gira e a luta empresarial continua.

Os anos vão passando e aqueles profissionais mais novos, que não tinham clientes, agora já estão mais velhos e também já conseguiram formar a sua carteira de pacientes. Eles continuam a receber muitos pacientes do dentista líder, mas já recebem também indicações próprias pelo bom trabalho que vêm realizando ao longo dos anos. Neste momento, a clínica tem uma forte tendência a dar um pulo de crescimento fenomenal, se a equipe continuar a trabalhar de forma coesa e com um objetivo conjunto. Entretanto, é justamente nesse bom momento que os problemas acontecem e muitas parcerias são desfeitas.

Os profissionais mais novos, que agora já não são tão novos, por já estarem relativamente estabilizados, têm a falsa impressão de que os pacientes que eles fidelizaram em seus próprios nomes se devem mais ao trabalho individual deles mesmos do que da equipe como um todo. Estes cirurgiões-dentistas, então, se esquecem de manter os pacientes girando na própria clínica. Não fazem mais indicações aos colegas da clínica, começam a trabalhar nos seus próprios nomes, fazem outras parcerias, priorizam o individual e não o crescimento coletivo da empresa. Não importa mais se os outros especialistas da clínica estão com pacientes ou não. O que importa é a minha agenda, os meus pacientes e o meu nome. Quando isso acontece, é o início do fim de uma parceria que poderia ser fértil, lucrativa e duradoura, beneficiando a todos e principalmente os pacientes.

O maior erro deste tipo de comportamento é achar que o cirurgião-dentista líder não precisa das indicações dos parceiros, e que ele, por ser mais velho e já ter muitos pacientes, vai sempre dar um jeito e agregar novos clientes. Isso realmente acontece – o líder continua trabalhando, agregando novos clientes e novas parcerias –, mas ele precisa muito da indicação dos seus próprios colegas, para que esta relação de confiança mútua se mantenha e os pacientes continuem girando na própria clínica. É uma corrente, na qual o elo não pode ser quebrado. Se um elo solta, toda a corrente arrebenta e a parceria acaba.

Obviamente que existem diversos tipos diferentes de parcerias e sociedades nas clínicas odontológicas pelo Brasil afora. Cada qual com as suas particularidades, distribuição de pacientes e acordos financeiros. Porém, o egoísmo, a inveja e a individualidade do ser humano estragam a maioria destas parcerias que poderiam ser muito promissoras. Quem trabalha em equipe deve sempre estar atento à agenda e à produção do colega que trabalha com ele, seja este o seu sócio de igual porcentagem ou o líder e dono da empresa. Nenhuma clínica vai andar para frente se um dos cirurgiões-dentistas estiver com a agenda vazia. É preciso olhar para agenda do outro e se sensibilizar se ela estiver vazia.

O trabalho sério em equipe dentro de uma clínica, além de gerar recursos a todos, beneficia imensamente os pacientes, que tem a sua saúde mantida em uma logística mais tranquila. Assim, para que este trabalho em parceria siga em frente, como em qualquer área de nossas vidas, é preciso sentir a dor do outro e tomar atitudes que ajudem o nosso próximo, que nesse caso é um parceiro de trabalho. Trabalhar em uma clínica e não indicar pacientes para os próprios colegas que trabalham ao seu lado, apenas com o intuito de receber mais pacientes de outras parcerias, é de uma falta de inteligência assombrosa, comparado a um cachorro que corre atrás do próprio rabo.

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“Portanto, tudo o que vocês querem que os outros vos façam, fazei também vocês a eles, porque esta é a lei e os profetas.” (Mateus 7:12)