Jamil Shibli e Márcio Formiga apresentam caso desafiador de implante imediato em molar com a utilização das brocas de osseodensificação.
Nos últimos anos, a Implantodontia tem se dedicado em melhorar a macro, a micro e, mais recentemente, a nanogeometria dos implantes dentários, buscando otimizar os resultados em termos de estabilidade primária e secundária. Entretanto, um procedimento praticamente não mudou desde os primórdios: a instrumentação para preparo do alvéolo cirúrgico. Pensando nisso, um periodontista de Michigan (Estados Unidos), o Dr. Salah Huwais, desenvolveu um sistema de brocas que otimiza a loja cirúrgica, potencializando os resultados para osseointegração1-2.
Segundo Huwais, não tem sentido tanta morbidade em enxertos ósseos, sejam autógenos ou não, para reconstruir rebordos atróficos e depois “simplesmente” remover parte desse novo osso com brocas que extraem material da loja cirúrgica. Brocas específicas fazem a osseodensificação do rebordo, causando expansão controlada ao mesmo tempo que promovem um “autoenxerto”, preenchendo as trabéculas ósseas com partículas provenientes da própria instrumentação. Basicamente, por trabalhar com a matriz colágena do osso, basta existir um remanescente mínimo de 2 mm de osso medular para sentir os efeitos da osseodensificação ao trabalhar com a plasticidade do tecido ósseo e movê-lo, ao invés de removê-lo pela subtração com brocas convencionais.
Vários estudos têm sido feitos demonstrando eficácia tanto na melhora da estabilidade primária – muito desejada nos casos de carregamento imediato, por exemplo – quanto da estabilidade secundária, o que pode antecipar a reabilitação final do caso, diminuindo o tempo de espera para pacientes e cirurgiões-dentistas. Trabalhos3 evidenciaram o aumento do quociente de estabilidade implantar (ISQ) em casos de instalação de implantes pela técnica de osseodensificação em um tempo menor do que quando utilizada a técnica tradicional de instrumentação, independentemente do sistema de implantes. Esses resultados podem ser extrapolados e sugerir um menor tempo de espera para iniciar a etapa protética dos pacientes, uma vez que o processo facilita ambas as estabilidades (primária e secundária).
Estudos experimentais em animais4 comprovaram taxas similares de contato osso/implante em implantes de superfície lisa e rugosa com a osseodensificação. O sistema pode ser utilizado para implantes cônicos ou cilíndricos e ainda para levantamento do assoalho de seio maxilar via crista – um método seguro porque a ponta das brocas não tem poder de corte e não perfura a membrana de Schneider quando usada no sentido anti-horário (osseodensificação). Levantamentos atraumáticos de até 3 mm, muitas vezes, são executados sem a necessidade de biomateriais, somente pelo autoenxerto que a osseodensificação propicia. Além dessa medida, pequenos enxertos ósseos podem ser utilizados para aumentar a elevação da membrana controladamente, de milímetro em milímetro, mesmo em casos limítrofes.
Porém, como em qualquer técnica, recomenda-se uma curva de aprendizado. Essas brocas ainda podem ser empregadas no sentido horário para executar perfurações, assim como as convencionais. Embora haja muito a ser incorporado à técnica e ao aprendizado com os resultados longitudinais, esse sistema tem apresentado respostas muito promissoras para a Implantodontia contemporânea.
Para tanto, ilustramos a situação com um caso desafiador de implante imediato em molar com a utilização das brocas de osseodensificação, o que facilitou sobremaneira a inserção do implante na região de septo (Figuras 1 a 22).
REFERÊNCIAS
1. Huwais S, Meyer EG. A novel osseous densification approach in implant osteotomy preparation to increase biomechanical primary stability, bone mineral density, and bone-to-implant contact. Int J Oral Maxillofac Implants 2017;32(1):27-36.
2. Huwais S, Mazor Z, Ioannou AL, Gluckman H, Neiva R. A multicenter retrospective clinical study with up-to-5-year follow-up utilizing a method that enhance bone density and allows for transcrestal sinus augmentation through compaction grafting. Int J Oral Maxillofac Implants 2018;33(6):1305-11.
3. Trisi P, Berardini M, Falco A, Vulpiani MP. New osseodensification implant site preparation method to increase bone density in low-density bone: in vivo evaluation in sheep. Implant Dent 2016;25(1):24-31.
4. Lahens B, Lopez CD, Neiva RF, Bowers MM, Jimbo R, Bonfante EA et al. The effect of osseodensification drilling for endosteal implants with different surface treatments: a study in sheep. J Biomed Mater Res B Appl Biomater 2019;107(3):615-23.
Jamil A. Shibli
Professor titular do Programa de pós-graduação em Odontologia, áreas de Implantodontia e Periodontia – Universidade Guarulhos (UnG); Livre-docente do Depto. de Cirurgia e Traumatologia BMF e Periodontia – Forp/USP; Doutor, mestre e especialista em Periodontia – FOAr-Unesp.
Orcid: 0000-0003-1971-0195.
Colaboração:
Márcio de Carvalho Formiga
Doutorando em Periodontia pela Universidade de Guarulhos (UnG); Mestre em Prótese Dentária pela São Leopoldo Mandic; Especialista em Periodontia pela Profi s/USP; Especialista em Implantodontia pela ABCD Florianópolis; Professor coordenador do curso de especialização em Implantodontia e Periodontia da UniSociesc.
Orcid: 0000-0002-4093-2203.