As seis mesas-redondas realizadas no IN 2019 mostraram pontos de vista distintos ou complementares sobre assuntos de alta relevância na Reabilitação Oral.
Por Flavius Deliberalli
e Renata Putinatti
A programação científica do IN 2019 contou com seis mesas-redondas, nas quais os professores se apresentavam intermediados por um presidente. A proposta desta atividade era mostrar pontos de vista distintos ou complementares sobre assuntos de alta relevância na Reabilitação Oral.
Entre os macrotemas discutidos, estiveram em pauta: carga imediata, estabilidade tecidual, tratamentos estéticos minimamente invasivos, uso de cerâmicas de alta resistência e utilização de pilares protéticos para dentes e implantes.
CARGA IMEDIATA E ESTABILIDADE DO IMPLANTE
A atividade que abriu o ciclo de mesas-redondas do IN 2019 foi intermediada por Valdir Muglia. O primeiro a subir ao palco foi Adam Hamilton (Estados Unidos), que apresentou a importância do planejamento virtual e todos os detalhes para um correto posicionamento do implante e posterior reabilitação. Na aula de Salah Huwais (Estados Unidos), pôde ser vista a relevância da osseodensificação para melhorar a densidade óssea e alcançar a estabilidade primária, necessária para a implantação imediata. Em seguida, Leandro Soeiro Nunes discorreu sobre uma maneira de planejar a implantação imediata a partir de dados obtidos com o exame tomográfico. Logo após, veio Hugo Nary Filho para falar a respeito de falhas em alguns planejamentos, mas que mesmo assim ocorreu a osseointegração. Nary Filho destacou que falta conscientização e melhor formação dos profissionais em relação à Implantodontia, além de compartilhar sua opinião de que não deve ser realizada carga imediata em rebordos desdentados por um longo período. Para concluir essa mesa-redonda, Adriano Piattelli (Itália) trouxe uma abordagem precisa e baseada em histologia, abrangendo o benefício da carga imediata sobre o osso a ser formado ao redor do implante durante a osseointegração.
ESTABILIDADE DO TECIDO MOLE PERI-IMPLANTAR
Vindo da Bélgica, Eric Rompen iniciou falando sobre a mucointegração estável e intacta. Como os implantes perfuram o envelope epitelial do corpo, obriga as células epiteliais a fecharem a ferida, de preferência no nível do pilar, o que só é possível se o material escolhido for suficientemente biocompatível para permitir a adesão epitelial. Caso contrário, as células migrarão apicalmente e poderão resultar em bolsas. Ele mostrou como obter mucointegração e preservá-la através de estratégias protéticas ponderadas. Em seguida, Jean-Pierre Gardella (França) discutiu o uso de enxerto de tecido conjuntivo na área estética, analisando a estabilidade do tecido mole peri-implantar e falando sobre o perfil biológico do paciente (com ou sem periodontite) e sua cooperação com o tratamento. A aula também englobou análises sobre o biotipo do paciente – incluindo os tecidos duros e moles –, o posicionamento do implante e o desenvolvimento das próteses provisórias e finais.
Já Attila Bodrogi (Hungria) evidenciou a bio’hack-ing e a engenharia tecidual em Implantodontia. Ele explicou que a bio’hack-ing é a arte de controlar a biologia e o desempenho do indivíduo, alterando o ambiente dentro e/ou fora de seu corpo. Baseando-se em evidências, a apresentação destacou as técnicas e abordagens que auxiliam na preservação de tecidos duros e moles nos locais do implante, especialmente na área estética. Ele frisou que, em caso de atraso na colocação, também há opção de restaurar o volume ausente, alcançando excelentes resultados. Por fim, Paulo Fukashi focou em como estabilizar o contorno gengival estético com enxerto de tecido conjuntivo em instalações imediatas múltiplas de implantes. De acordo com ele, uma das formas para retardar ou evitar este processo é o uso do enxerto de tecido conjuntivo posicionado na parte vestibular da tábua óssea pela técnica do túnel. Esta mesa-redonda foi presidida por Leandro Chambrone.
INTEGRAÇÃO PRÓTESE-PERIODONTIA-IMPLANTODONTIA
O primeiro a se apresentar foi Joseph Kan (Estados Unidos), que destacou os aspectos estéticos e de provisionalização relacionados à colocação imediata de implantes. Durante a aula, ele esclareceu questionamentos que envolvem a manutenção do contorno bucal e também a viabilidade de tratamentos que fazem a proteção da raiz. Outro ponto abordado foi a importância do osso vestibular para a colocação imediata do implante. Ueli Grunder (Suíça) direcionou a aula para as diferentes estratégias de casos estéticos exigentes e tratados com implantes. Como na Implantodontia existem várias modalidades de tratamento para cada situação, muitas vezes é difícil fazer a escolha certa para alcançar o melhor resultado estético. Por isso, o professor discutiu questões importantes para o planejamento do tratamento, as vantagens e os riscos da colocação imediata do implante, e ainda fez uma comparação desta técnica com a procedimento de aumento ósseo simultâneo. Mario Groisman falou sobre os implantes imediatos na região anterior em sítios sem osso vestibular. Ele lembrou que os incisivos centrais superiores com fraturas ou reabsorções radiculares representam um grande desafio na Odontologia, uma vez que fatores mecânicos e microbiológicos induzem a perda óssea. Por isso, o professor mostrou soluções para evitar problemas, inclusive recursos de diagnóstico que ajudam a alcançar resultados cada vez mais precisos. Para fechar a mesa-redonda, José Vitor Mazaro focou em estratégias para o sucesso dos implantes imediatos em zona anterior e posterior. Sendo assim, a apresentação teve como objetivo demonstrar os princípios técnicos-científicos para a obtenção de resultados de excelência a longo prazo. A intermediação entre os ministradores foi feita por Laerte B. Schenkel.
TRATAMENTOS ESTÉTICOS MINIMAMENTE INVASIVOS
A discussão reuniu Francesco Mintrone (Itália), Vincenzo Musella (Itália), Marcelo Calamita e Cesar Benfatti, e foi coordenada por Ricardo Magini. Os professores concordaram que a estética é protagonista no êxito terapêutico. Neste contexto, precisa-se conhecer as expectativas do paciente e conciliá-las com excelência estética, máxima segurança e mínimo de morbidade. Vivencia-se uma era minimalista: a simplicidade é a máxima sofisticação e, diante disso, as vantagens da Odontologia Digital são inquestionáveis, pois são priorizados preparos dentários e cirurgias minimamente invasivas, além do escopo da máxima preservação tecidual. Na estética rosa, a etapa primordial consiste na exodontia minimamente traumática. As estabilidades marginais dos tecidos periodontais e peri-implantares são regidas pelas distâncias biológicas e fenótipos teciduais. Após a exodontia, existem três possibilidades terapêuticas: alvéolo preenchido por coágulo (desorganizado), preenchimento do alvéolo por biomateriais de baixa taxa de reabsorção e/ou membranas e implante imediato. A terapia de eleição é o implante imediato com abordagem palatina/lingual, preenchimento do gap com biomaterial de baixa taxa de reabsorção e utilização de conexão cônica. Finalmente, os professores destacaram a alteração da realidade clínica promovida pela tecnologia digital, que permite a simulação de resultados e a escolha de tratamentos estéticos minimamente invasivos. Todavia, necessita-se de um protocolo (processo de captura das informações, processo de planejamento em software e processo de fresagem ou impressão 3D) para controle das variáveis e para obtenção da primazia estética.
CERÂMICA DE ALTA RESISTÊNCIA PARA PRÓTESE FIXA
O primeiro a se apresentar foi Gerard Chiche (Estados Unidos), autor de um dos livros de maior referência da Prótese Fixa, que discorreu sobre o uso da zircônia em próteses do tipo protocolo sobre implantes e mostrou evidências científicas e detalhes da técnica dentro de um fluxo de trabalho completamente digital. Mas, o mais importante foi o novo desenho que ele criou para eliminar os pequenos problemas que acontecem ao utilizar as estruturas em zircônia para próteses fixas do tipo protocolo. Ele modifica o desenho da estrutura, deixando todos os contatos oclusais importantes em zircônia. Já Gustavo Vernazza (Argentina) falou sobre oclusão e bruxismo, relatando que a oclusão precisa ser levada em consideração, já que pode ser um fator crítico quando se utiliza materiais cerâmicos, que podem fraturar. Concluindo a discussão com maestria, Ivete Sartori organizou a aula de forma extremamente didática e explicou as modalidades de zircônia utilizadas mais frequentemente na atualidade, fez um breve resumo histórico da evolução desses materiais e depois sugeriu o protocolo ideal de uso desses materiais nas novas tecnologias, transitando entre o digital e o analógico. O presidente da mesa-redonda, Carlos Araújo, destaca que a atividade deixou diretrizes bastante práticas para o clínico que tem intenção de ingressar nesse novo campo, que é a utilização da zircônia nas próteses fixas sobre implantes.
PILARES PROTÉTICOS PARA DENTES E IMPLANTES
A mesa-redonda que encerrou o ciclo de atividades do evento foi presidida por Newton Sesma, que conduziu as discussões e a interação com a plateia. Primeiro a se apresentar, o colombiano David Troncoso comentou sobre diversos critérios que precisam ser analisados para tomar a decisão entre uma prótese cimentada ou parafusada. Entre eles: angulação do implante, espaço interoclusal, reversibilidade, remoção de excesso de cimento, estética e passividade. Ele falou também sobre a influência da espessura da mucosa na aparência estética dos abutments. Na sequência, Sonia Leziy (Canadá) seguiu a linha de raciocínio e apresentou técnicas para modificar a anatomia dos tecidos moles, discutindo vantagens e limitações do protocolo dermal ARC para ganho de volume tecidual e mostrando os benefícios dos abutments de cicatrização personalizados. A professora finalizou com os pontos-chave para otimizar os resultados com tecidos moles: usar implantes de diâmetro reduzido, evitar acesso cirúrgico envolvendo as papilas, posicionamento tridimensional do implante, abutments de cicatrização personalizados, melhorar o fenótipo gengival e trabalhar com provisórios para ajuste de contorno e pontos de contato. Já o professor José Geraldo Malaguti trouxe para a discussão a influência do material para pilares protéticos, abordando as propriedades mecânicas e óticas das diferentes cerâmicas: feldspáticas, vítreas e policristalinas. Para concluir as discussões, Diego Klee de Vasconcellos ressaltou a importância do planejamento do implante guiado pela prótese, concordando de forma unânime com os demais palestrantes. Ele apresentou também as vantagens da técnica one abutment at one time e concluiu mostrando os benefícios do emprego de recursos tecnológicos digitais na confecção de pilares protéticos.
Agradecimento aos presidentes das mesas-redondas Carlos Araújo, Newton Sesma, Ricardo Magini e Valdir Muglia pela colaboração com as informações contidas nesse texto.