Protocolo de reabilitação P-I Branemark Institute
Imagem clínica na fase pré-tratamento de um paciente desdentado total candidato à reabilitação pelo protocolo Brånemark.

Protocolo de reabilitação P-I Branemark Institute

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Mauricio Cardoso descreve o protocolo de reabilitação com foco em edentulismo total, que alcançou mais de mil pessoas no instituto.

A Implantodontia revolucionou a Odontologia por propiciar a reabilitação do edêntulo, empregando próteses apoiadas em ancoragens esqueléticas, fugindo das tradicionais dento e mucossuportadas.

Sabe-se que a origem deste processo e o foco principal sempre foi o edentulismo total – ou inválidos orais, como eram classificados esses pacientes pelo Prof. Brånemark, que em uma citação muito conhecida afirmou que “ninguém deveria morrer com seus dentes em um copo d’água”. As reabilitações totais inferiores, especialmente por conta do maior desconforto vivenciado pelos pacientes, sempre foram o foco principal dos estudos desenvolvidos pelo Prof. Brånemark, no sentido de simplificar os procedimentos clínicos e tornar o tratamento acessível à maior parte da população.

Mesmo antes de 1981, quando os primeiros resultados clínicos foram apresentados à comunidade científica1, a equipe do Prof. Brånemark já estava desenvolvendo protocolos com o objetivo de reduzir o número de implantes para tornar o procedimento mais acessível financeiramente e criar estratégias cirúrgicas/protéticas para facilitar a sua execução. Nesta direção, sistemas como o Novum foram lançados no mercado, proporcionando próteses com 12 e até 14 dentes suportadas por apenas três fixações instaladas em posições pré-determinadas no espaço interforaminal2. O sistema realmente se mostrou eficaz, seguro do ponto de vista de resultados, mas sem a grande simplificação sugerida. O desenvolvimento concomitante de técnicas de moldagem, fundição e confecção de próteses não fez evoluir esta ideia inicial do Novum, pois a possibilidade de sua personalização superou qualquer tipo de limitação técnica operacional. Mais ainda, os procedimentos cirúrgicos para a execução de implantes em mandíbula na região anterior se consagraram e passaram a ter ampla utilização no meio odontológico.

Os “protocolos inferiores” provavelmente representaram o tratamento mais executado e com maior índice de sucesso dentro da Implantodontia, independentemente do profissional, do material empregado ou até mesmo do número de implantes, considerando obviamente o limite mínimo de três fixações.

Em projetos sociais, algumas ações são cruciais para que os benefícios atinjam populações menos favorecidas, de forma mais objetiva e segura: simplificação de técnica, índices elevados de sucesso, reprodutibilidade por um número grande de profissionais e custos mais reduzidos. Por estes motivos e pelo conhecimento experimentado pelo Prof. Brånemark ao longo de sua vida, quando o P-I Brånemark Institute se instalou em Bauru, em 2006, o protocolo de reabilitação estabelecido colocou como foco o edentulismo total, oferecendo um tratamento no qual se praticava a instalação de três implantes na região interforaminal, que suportaria uma prótese fixa inferior implantossuportada e uma prótese total superior.

Esta reabilitação alcançou mais de 1.000 pessoas que receberam este tratamento de forma totalmente gratuita ou com colaboração parcial nos custos do tratamento. O P-I Brånemark Institute realizou³, ao longo de dez anos de atividades, 5.370 implantes com índice de sucesso de 95%. Foram confeccionadas 978 próteses totais e 1.137 protocolos.

Pode-se afirmar, sem dúvidas, que a ideia original do Prof. Brånemark se comprovou eficaz e correta, pois muitos se beneficiaram deste tratamento e a semente foi lançada para a continuidade do projeto.

Neste protocolo, os critérios para indicação de carregamento imediato dos implantes foi seguido de forma mais criteriosa, considerando, além da estabilidade primária, outros aspectos: condições biológicas do paciente, hábitos deletérios e características ósseas locais. Os pacientes, em sua maioria já edêntulos, deveriam aguardar alguns meses para receber suas próteses, em uma condição mais favorável de prognóstico pelo resultado do processo de osseointegração. Os casos tratados por meio de carga imediata eram restritos a situações em que extrações dentárias eram realizadas e, consequentemente, a transição de uma condição dentada ou parcialmente dentada para o edentulismo. Tais protocolos foram realizados por dezenas de equipes e cirurgiões, com diferentes graus de habilidade e experiência, mostrando resultados muito semelhantes e satisfatórios, corroborando a literatura mundial4-5.

Da mesma forma, cuidados e protocolos de controle foram estabelecidos pelo Instituto após a conclusão do tratamento. Os pacientes eram convocados semestralmente para controle de higienização e dos elementos mecânicos da prótese, momento em que recebiam instruções de higiene durante as consultas, as próteses eram removidas, os ajustes e o torque dos parafusos eram conferidos, além da higienização.

Eventuais reparos poderiam ser realizados, assim como a verificação da condição oclusal. Desta forma, durante todo o período no qual o instituto ofereceu este controle, a ocorrência de perdas tardias de implantes sempre foi pequena.

Neste novo momento, com o projeto sendo ampliado graças ao apoio e à adesão de instituições parceiras de várias regiões do País, mais pacientes poderão ser atingidos pela filosofia de reabilitação do Prof. Brånemark, como “braços da instituição principal”, imbuídos dos ideais do instituto. São profissionais que irão aumentar, de forma significativa, o leque de ações em todo o Brasil, promovendo este tipo de tratamento em suas regiões, doando seu trabalho de forma voluntária – além dos custos demandados pelos laboratórios de prótese – para executar este protocolo.

O instituto irá prover a estes parceiros os implantes e componentes, doados por empresas parceiras fabricantes de implantes – Neodent e OBL – em uma sinergia que pretende atingir, exclusivamente, pacientes vulneráveis economicamente, aumentando assim em um curto prazo o número de pacientes assistidos, descentralizando as ações do instituto em âmbito nacional.

REFERÊNCIAS

  1. Adell R, Lekholm U, Rockler B, Brånemark PI. A 15-year study of osseointegrated implants in the treatment of the edentulous jaw. Int J Oral Surg 1981;10(6):387-416.
  2. Brånemark P-I. Protocolo para reabilitação bucal com carga imediata. Brånemark Novum, 1996.
  3. Cardoso MA. Uma história em números. INPerio 2020;5(1):45.
  4. Jemt T. Implant survival in the edentulous jaw – 30 years of experience. Part I: a retro-prospective multivariate regression analysis of overall implant failure in 4,585 consecutively treated arches. Int J Prosthod 2018;425-35.
  5. Jemt T. Implant failures and age at the time of surgery: a retrospective study on implant treatment in 2915 partially edentulous jaws. Clin Implant Dent Relat Res 2019;1-7.