Uso de parafusos tipo tenda em procedimentos regenerativos ósseos
Aspecto clínico do ganho ósseo obtido até o nível do parafuso tipo tenda, demonstrando a efetividade da estabilidade da malha de titânio e ancoragem obtida.

Uso de parafusos tipo tenda em procedimentos regenerativos ósseos

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Caso clínico apresentado por Sérgio Scombatti, Marcelo Faveri e Danilo Maeda ilustra o uso de parafusos tipo tenda em procedimento regenerativo.

Os desafios da reconstrução óssea guiada (ROG) são objeto de grandes debates e dúvidas na Odontologia. Não existe um consenso clínico a respeito de procedimentos que possam garantir a previsibilidade absoluta de resultados. Além disso, existem inúmeras combinações de técnicas, fato que pode dificultar a decisão do cirurgião-dentista sobre a ROG adequada para seu paciente.

Além disso, existem diversos fatores relacionados ao próprio paciente que devem ser considerados nestes procedimentos cirúrgicos. Sobre este tópico, alguns pesquisadores¹ publicaram uma revisão da literatura na qual reportaram os “pass principles”, ou seja, os fatores-chave para o sucesso da ROG. Dentre os princípios descritos pelos autores, devemos considerar e analisar não apenas a quantidade de aumento ósseo desejado, mas também sua vascularização, fechamento primário da ferida cirúrgica e controlar as forças sobre a área regenerada. A estabilidade do enxerto também foi citada como um dos fatores fundamentais, assim como a proteção de toda enxertia óssea, independentemente de sua origem (autógena, xenógena, sintética ou homóloga), das células indesejáveis ao processo de reparo ósseo, pelo uso de barreiras absorvíveis ou não absorvíveis, algo já relatado na década de 1970².

Particulados ósseos têm sido indicados para preenchimento de cavidades em diferentes categorias de defeitos ósseos e diferentes níveis de potencial regenerativo. Assim, devido ao seu fácil manuseio e resultados aceitáveis dos pontos de vista clínico e científico, têm sido indicados para aumentos ósseos verticais e horizontais, quando associados a barreiras.

Ainda que barreiras sejam executadas, a técnica não irá apresentar o sucesso desejado, caso a estabilização dos grânulos não seja alcançada³. A estabilização de enxertia óssea em forma particulada em defeitos pequenos ou autocontidos não costuma ser uma preocupação, entretanto, em defeitos críticos, a estabilidade do enxerto será fundamental para o resultado. A razão para isso é que implantes que não apresentam boa estabilidade primária podem sofrer microvimentação, resultando em fibrointegração ao invés da desejada osseointegração. Blocos ósseos não estabilizados adequadamente não serão incorporados e podem desprender do leito receptor no momento da reentrada cirúrgica para a inserção de implantes.

Não estabilizar o enxerto ósseo particulado de forma adequada levará às mesmas falhas clínicas. O uso de parafusos do tipo tenda pode oferecer algumas vantagens clínicas em procedimentos de aumento ósseo com o uso de substitutos ósseos em forma particulada.

A utilização desses parafusos foi originalmente descrita por autores4 e, posteriormente, por outros pesquisadores5 para a regeneração de defeitos maxilofaciais. A técnica foi adaptada a defeitos menores intraorais6-7. Sua principal função é ajudar na estabilização do enxerto e, simultaneamente, na estabilidade da barreira/membrana, evitando forças excessivas sobre material enxertado e sua micromovimentação. Estudos mostram que este é um ponto-chave para a regeneração óssea guiada e qualquer micromovimento entre a interface do enxerto e o leito receptor pode prejudicar a neoformação vascular, resultando em necrose avascular e, consequentemente, na perda do enxerto3,8.

Nesse contexto, o uso do parafuso tipo tenda durante procedimentos regenerativos foi abordado em uma revisão sistemática publicada9, na qual avaliaram ainda a sobrevivência de implantes após o uso desta técnica associada a procedimentos regenerativos ósseos. Os autores descreveram um ganho médio de reconstrução óssea horizontal de aproximadamente 3 mm, e uma taxa de sobrevivência de implantes de 97,6% em cinco anos de acompanhamento, baseados em uma casuística de 1.111 implantes instalados em áreas enxertadas, nas quais foram usados parafusos tipo tenda durante a ROG. Além disso, os autores descreveram que, devido à melhor estabilidade do enxerto particulado com o uso desses parafusos, o enxerto autógeno poderia ser reduzido nos procedimentos regenerativos.

Em uma evolução da técnica, existem hoje parafusos tipo tenda que têm a capacidade de ajudar na estabilização tanto do material de enxertia quanto da barreira, por meio do uso de um parafuso passante atuando como “âncora” de todo o conjunto enxerto/barreira, e não somente como um “pilar” de sustentação. Desse modo, poderiam contribuir para determinar o nível do ganho ósseo vertical e horizontal, auxiliar na estabilidade do enxerto e, provavelmente, reduzir a taxa de exposições, devido à melhor estabilidade. Entretanto, estudos clínicos controlados devem ser realizados para comprovar estas hipóteses. As Figuras 1 a 8 mostram um caso clínico que ilustra o uso desse tipo de parafuso (caso clínico realizado no curso de mestrado em Odontologia da Universidade Univeritas/UnG, com a participação dos mestrandos Ronaldo Fabiano e Luciano Milanello).

Em conclusão, seguindo os princípios básicos das regenerações ósseas guiadas, a estabilidade do complexo tecido mole (retalho) + enxerto ósseo particulado + membrana (barreira) é fundamental, e pode predizer o sucesso do procedimento.

Desta forma, o uso de parafusos tipo tenda com a função de ancoragem é mais uma boa opção disponível quando bem indicada, podendo auxiliar o clínico a conquistar melhores resultados em seus procedimentos regenerativos.

REFERÊNCIAS

  1. Wang HL, Boyapati L. “PASS” principles for predictable bone regeneration. Implant Dent 2006;15(1):8-17.
  2. Nyman S, Karring T. Regeneration of surgically removed buccal alveolar bone in dogs. J Periodontal Res 1979;14(1):86-92.
  3. Mertens C, Braun S, Krisam J, Hoff mann J. The influence of wound closure on graft stability: an in vitro comparison of different bone grafting techniques for the treatment of one-wall horizontal bone defects. Clin Implant Dent Relat Res 2019;21(2):284-91.
  4. Hempton TJ, Fugazzotto PA. Ridge augmentation utilizing guided tissue regeneration, titanium screws, freeze-dried bone, and tricalcium phosphate. Implant Dent 1994;3(1):35-7.
  5. Marx RE, Shellenberger T, Wimsatt J et al. Severely resorbed mandible: predictable reconstruction with soft tissue matrix expansion (tent pole) grafts. J Oral Maxillofac Surg 2002;60:878-89.
  6. Chasioti E, Chiang TF, Drew HJ. Maintaining space in localized ridge augmentation using guided bone regeneration with tenting screw technology. Quintessence Int 2013;44:763-71.
  7. Khojasteh A, Behnia H, Shayesteh YS et al. Localized bone augmentation with cortical bone blocks tented over different particulate bone substitutes: a retrospective study. Int J Oral Maxillofac Implants 2012;27:1481-93.
  8. Sethi A, Kaus T, Cawood JI, Plaha H, Boscoe M, Sochor P. Onlay bone grafts from iliac crest: a retrospective analysis. Int J Oral Maxillofac Surg 2020;49(2):264-71.
  9. Pourdanesh F, Esmaeelinejad M, Aghdashi F. Clinical outcomes of dental implants after use of tenting for bony augmentation: a systematic review. Br J Oral Maxillofac Surg 2017;55(10):999-1007.