Estrôncio: Elcio Marcantonio Jr. e Fernanda Gonçalves analisam o medicamento, considerado promissor na terapia de osteonecrose dos maxilares causada por bifosfonatos.
Os bifosfonatos (BFs) são medicamentos utilizados para o controle de doenças ósseas reabsortivas, como osteoporose, tumor ósseo, doença de Paget e osteopenia, pois têm a função de inibir o processo de perda de densidade mineral óssea1-3 e a atividade osteoclática4-7. Porém, apesar dos efeitos benéficos em produzir estabilização da perda óssea, seu uso crônico em altas concentrações é prejudicial por gerar bloqueio do metabolismo ósseo e/ou inibição da remodelação óssea, que ocasionam efeitos colaterais, por exemplo, a osteonecrose dos maxilares induzida por bifosfonatos (ONMB). A ONMB pode ocorrer após procedimentos cirúrgicos na Odontologia, tais como exodontias8, tratamento cirúrgico periodontal9 e instalação de implantes dentários10.
Muitas teorias têm sido propostas, porém a patogênese da ONMB ainda não foi elucidada. Estudos relatam que uma vez depositadas no osso, quantidades muito pequenas de bifosfonatos vão sendo liberadas na circulação durante o turnover ósseo. Consequentemente, estima-se que a meia-vida dos BFs no osso seja de muitos anos11. A incidência de ONMB após procedimentos cirúrgicos com administração endovenosa varia de 0,8 a 12%, enquanto nos pacientes que fazem uso oral a incidência é bem menor, mas aumenta com o tempo de utilização12. Esses resultados evidenciam a preocupação com o desenvolvimento de osteonecrose em pacientes que são medicados cronicamente com BFs.
Diversos tipos de terapias para ONMB vêm sendo pesquisados, mas ainda não é possível determinar um protocolo com a certeza de resultados positivos. Alguns autores acreditam que as cirurgias conservadoras de remoção e ressecção do osso necrótico seja o principal início de tratamento, porém somente o debridamento cirúrgico não é capaz de promover um tratamento efetivo13. Outros protocolos, com diversos tipos de medicamentos e procedimentos, foram estudados nas últimas décadas, como o tratamento com pentoxifilina, tocoferol, infusão de células-tronco, laserterapia, aplicação de L-PRF, dentre outros.
Medicamentos à base de estrôncio têm sido considerados antiosteoporóticos promissores por agirem em uma via de ação do metabolismo ósseo diferente dos bifosfonatos. Esses medicamentos têm a capacidade de agir tanto nos mecanismos de diminuição e inibição osteoclástica quanto nos de formação óssea, induzindo à formação de osteoblastos14 e promovendo um turnover em favor da neoformação óssea15. Os mecanismos de ação do estrôncio não estão completamente esclarecidos, porém a evidência científica confirma sua ação no aumento da densidade óssea, além de indução da formação óssea, tornando o estrôncio um medicamento interessante para tratamento de enfermidades relacionadas ao metabolismo ósseo16.
Outro aspecto importante e atual é que o estrôncio possui efeitos benéficos na osseointegração de implantes17. Pesquisas estão sendo realizadas a fim de investigar detalhadamente o estrôncio, para que novas estratégias de terapia e tratamento de osteonecrose venham solucionar a ONMB, principalmente após procedimentos cirúrgicos que envolvem exodontias e colocação de implantes em maxilares18.
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Coordenação:
Elcio Marcantonio Jr.
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia, e coordenador do curso de especialização em Implantodontia – FOAr/Unesp; Professor colaborador do Ilapeo.
Orcid: 0000-0002-9660-4524.
Autora convidada:
Fernanda C. Gonçalves
Mestra e doutoranda em Periodontia – Faculdade de Odontologia de Araraquara (Unesp).