Marco Bianchini mostra como as membranas de colágeno favorecem a eficácia da regeneração óssea guiada e cumprem seu papel de barreira mecânica.
A reabilitação de pacientes com perdas ósseas extensas tem se tornado cada vez mais frequente e desafiadora. Nas últimas décadas, várias técnicas de aumento do volume ósseo para reabilitação com implantes têm sido desenvolvidas e propostas. Um dos problemas enfrentados durante o processo de reparo é a mais rápida proliferação do tecido conjuntivo fibroso adjacente em comparação com o tecido ósseo, o que pode acarretar em invasão das áreas de enxerto por fibroblastos e consequente formação de fibrose, em parte da área preparada para osteogênese.
Nesse sentido, as técnicas de regeneração óssea guiada (ROG) baseiam-se no conceito de impedir o crescimento do epitélio gengival e a proliferação de fibroblastos para o interior da ferida por meio de barreiras de membrana, fornecendo espaço para a osteogênese dentro do coágulo sanguíneo. Assim, vários materiais que funcionam como barreiras – não absorvíveis ou absorvíveis – têm sido desenvolvidos e modificados na tentativa de se obter completa neoformação óssea na área. Essas barreiras são conhecidas no nosso meio como membranas.
O que ocorre é que, além de isolar o enxerto ósseo, para que esse não seja dominado pelos tecidos moles (epitélio e conjuntivo), uma boa membrana também deveria estimular a formação de uma mucosa ceratinizada, sobre o tecido ósseo e estruturas adjascentes (dentes naturais e implantes), objetivando a preservação alveolar com a manutenção da altura gengival, evitando defeitos estéticos indesejáveis. Mas nem sempre este ganho gengival é alcançado.
As membranas de colágeno têm sido cada vez mais utilizadas para estes propósitos, por serem biocompatíveis, absorvíveis e por permitirem colonização por células osteogênicas. Grande parte das membranas de colágeno disponíveis no mercado são provenientes do colágeno tipo I. O colágeno pode ser obtido de diferentes espécies (bovinos, suínos e de ratos) e diferentes sítios anatômicos (pericárdio, dura-máter, fáscia do temporal, derme, tendão, entre outros).
Levando em consideração que o colágeno é um agente hemostático natural, essas membranas possuem a habilidade de promover agregação plaquetária, facilitando o início do processo de reparo e a maturação da ferida. Apresentam baixa imunogenicidade, capacidade de aumentar a espessura dos tecidos e fácil manipulação, além de não levarem à formação de quelóide nos procedimentos regenerativos.
O colágeno é uma proteína de importância fundamental na constituição da matriz extracelular do tecido conjuntivo, sendo responsável por grande parte de suas propriedades físicas. Ele é considerado o mais importante componente proteico estrutural do corpo humano. Sua molécula possui uma composição de aminoácidos não muito comum, formada por um grande número de glicinas e prolinas, assim como por mais dois aminoácidos: a hidroxiprolina e a hidroxilisina. O colágeno apresenta pouca extensibilidade, alta resistência, fibrorientação, capacidade de controlar a adição e liberação de outras substâncias, baixa antigenicidade, além da capacidade de estimular a coagulação sanguínea.
Existem vários tipos de membranas de colágeno no mercado, com bons resultados clínicos e histológicos. Porém, atualmente, vem ganhando força na comunidade científica a utilização de membranas de colágeno bilaminadas (ou com dupla camada mais espessa) que diminuem a exposição dessas ao meio bucal, resultando em uma melhora na condição dos tecidos neoformados. Observa-se, também, que essa propriedade proporcionou maior espessura e resistência, possibilitando a formação de um espaço para proteção do coágulo. As figuras 1 a 4 ilustram um caso com a utilização de membranas de colágeno.
De acordo com a literatura, as membranas absorvíveis provenientes do colágeno representam um avanço na Implantodontia, favorecendo a eficácia da regeneração óssea guiada e cumprindo seu papel de barreira mecânica. A vantagem de não se necessitar de um segundo tempo cirúrgico, a fim de se remover a membrana, não pode ser descartada, bem como as importantes características do colágeno, que certamente contribuem para uma regeneração completa da área, tanto dos tecidos duros como dos tecidos moles.
Sugestão de leitura
- Silva EC, Oliveira LJ, Souza PEA. Membranas de colágeno em Implantodontia: revisão de literatura-collagen membrane in implantology: literature review. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/PUC – Minas. Arquivo Brasileiro de Odontologia 2014;10(1).
“Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que agem fielmente são o seu deleite.” (Provérbios 12:22)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
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