Odontologia Digital: quanto custa implementar o fluxo digital no consultório? Como se adequar a essa nova realidade? Abaixo, damos todas as respostas.
Por Andressa Trindade
O crescente avanço tecnológico e da Odontologia Digital sacudiu o setor, trouxe novas ferramentas de trabalho e abriu oportunidades. Aderir ou não aos processos digitais – seja no consultório ou no laboratório – se tornou o mais recente dilema entre os cirurgiões-dentistas. As dúvidas vão desde por onde começar a implementar a digitalização até se vale a pena o alto investimento em equipamentos e treinamento da equipe.
É fundamental ponderar e estudar diversos fatores antes de tomar uma decisão, já que o aporte financeiro é alto. “O primeiro investimento deve ser em conhecimento para compreender os diversos passos da Odontologia Digital, que é muito mais do que um scanner dentro do consultório”, afirma Fernando Peixoto, doutor em Periodontia e ministrador de palestras e treinamentos sobre restaurações estéticas digitais.
Outra etapa importante é entender o fluxo de trabalho digital para que os investimentos sejam feitos de maneira personalizada, consciente e de acordo com a necessidade de cada profissional, laboratório, clínica, centro de imagem ou planning center. “Os recursos digitais vieram para elevar a qualidade da Odontologia como um todo, mas dependem da competência profissional de quem opera equipamentos, softwares, planejamentos e tratamentos”, argumenta Fábio Bezerra, doutor em Biotecnologia.
Nelson Silva, professor do Departamento de Odontologia Restauradora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), alerta para a falta de abordagem nas universidades em relação à Odontologia Digital. “A maioria dos cursos ainda não tem esse fluxo muito bem entendido ou aplicado, por isso os graduandos chegam ao mercado de trabalho com poucos conhecimentos direcionados”, ressalta, ao sugerir algumas perguntas que servem como norte para avaliar as necessidades do profissional no consultório ou laboratório:
- A tecnologia melhorará o atendimento ao paciente?
- Aumentará a eficiência do negócio?
- A Odontologia Digital reduzirá ou eliminará custos?
- É fácil de usar?
- Pode ser adicionada no futuro (ou seja, é escalável)?
- Criará um ambiente de trabalho melhor?
- Beneficiará o paciente quanto ao conforto e à conveniência?
- Vai gerar nova receita para o negócio?
- Melhorará os resultados dos tratamentos?
- Integra-se a outros equipamentos já existentes no local?
- Gerará retorno de investimento?
- Ajudará a equipe a ser mais produtiva e a fazer um trabalho ainda melhor?
AVALIANDO AS VARIÁVEIS
Depois de analisar se a implementação do fluxo digital será de fato benéfica e rentável, o cirurgião-dentista pode ficar confuso diante de tantas opções de equipamentos e combinações possíveis. Bezerra dá um exemplo focado no profissional que escolhe montar uma estrutura in house em vez de terceirizar os serviços. “Considerando a parte executora restauradora, para internalizar na clínica o fluxo digital completo, seriam necessários os seguintes equipamentos: a) máquina fotográfica, iPad ou telefone celular para aquisição das fotografias; b) tomógrafo; c) scanner intraoral ou de bancada; d) software para planejamento digital; e) impressora 3D; f) fresadora; g) laboratório com fornos para sinterização de zircônia e/ou metal e forno de cristalização”, detalha.
O investimento varia bastante conforme as características pessoais, equipamentos, nível de precisão e capacidade produtiva. Portanto, deve fazer parte de um plano de negócios muito bem estruturado e baseado no perfil de cada profissional, para oferecer o retorno desejado e evitar frustrações.
O TAMANHO DO INVESTIMENTO
É importante levar em consideração a diferença de valores entre os fabricantes e a forma como cada equipamento atende a realidade do profissional. Os valores dos scanners, por exemplo, variam de R$ 80 mil a R$ 250 mil – variável decorrente de marca, modelo e funcionalidades oferecidas.
Silva complementa que a fresadora custa em torno de R$ 200 mil e ainda requer gastos para repor as brocas e os fluidos, que custam entre R$ 150 e R$ 500 (no caso do fluido, o valor é referente ao litro). Já o valor das impressoras 3D gira em torno de R$ 3.500 a 200 mil e o valor da resina usada para seu funcionamento varia de R$ 800 a R$ 1.200 o quilo. É preciso adicionar ainda a anuidade do software, que fica entre R$ 5 mil e R$ 11 mil. “Todos os valores podem ser maiores, dependendo do modelo e da marca do equipamento, impostos e oscilação de câmbio”, explica Silva.
Há outros gastos periféricos relacionados ao scanner (por exemplo, treinamento para manuseio de cerâmica e forno apropriado) e à fresadora (como forno próprio para sinterizar a zircônia). Logicamente, a promessa de benefícios da digitalização é enorme, porém não faz sentido se os equipamentos não gerarem produtividade, por isso o nível de investimento é bastante particular e deve ser analisado caso a caso. “Em um consultório pequeno, onde não há um técnico para executar os trabalhos, o dentista precisará dedicar tempo para isso. Pensando no quanto o Brasil é um mercado competitivo, alguns consultórios que têm janelas abertas podem ocupá-las fazendo desenhos e execuções de restaurações”, sugere.
Somado a esses gastos, também é importante contabilizar o treinamento de todos os profissionais que vão operar os equipamentos. “É uma curva de aprendizado e sabemos que esse investimento é contínuo, assim como a atualização técnico-científica de qualquer dentista”, destaca Peixoto.
INVESTIMENTO EM EQUIPAMENTOS
Obs: valores médios dos equipamentos, que não refletem a tabela de preço de qualquer empresa do setor.
CUSTO-BENEFÍCIO: UM FATOR DECISIVO NA ODONTOLOGIA DIGITAL
A digitalização de processos é um divisor de águas na Odontologia. Um exemplo é a melhor comunicação com os pacientes, que agora entendem e participam de todo o processo de decisão do tratamento. “Realizamos planejamentos com um nível muito maior de precisão e previsibilidade, resultado do uso de imagens tridimensionais, softwares altamente precisos e guias de orientação terapêutica para minimizar riscos e aumentar os índices de sucesso e satisfação dos pacientes. Também, elevamos o nível de repetibilidade qualitativa dos tratamentos, já que o domínio do fluxo digital permite padronizar a aquisição de imagens, planejamento e execução de tratamentos com margens mínimas de erros”, detalha Bezerra.
O custo-benefício é tangível e calculável pelo ganho expressivo na economia de tempo dos processos dentro da clínica ou ainda quando se adota um sistema de fresagem para eliminar ou diminuir custos de laboratório. Porém, Peixoto destaca que esse cenário depende do perfil de cada dentista, do tempo disponível para manusear o fluxo digital e da capacitação. “O importante é obter agilidade nos processos, integração de comunicação com a equipe técnica, encurtamento de distâncias (uma vez que a digitalização permite a transmissão imediata de dados) e, principalmente, o acréscimo de informações que melhoram o diagnóstico e o plano de tratamento”, enumera.
A PASSAGEM DE BASTÃO
Do fluxo analógico para o digital, muitos aspectos da Odontologia têm sido modificados – desde técnicas até o comportamento dos profissionais. “Fazemos parte de uma geração de transição entre essas duas realidades, o que, por definição, nos coloca frente a desafios e oportunidades pouco prováveis até pouco tempo atrás. Existe a necessidade de que todos os sistemas – educacional, industrial, técnico e produtivo – se adequem e passem a caminhar em uma mesma direção”, observa Bezerra.
O reconhecimento da Odontologia Digital como especialidade pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) foi um grande passo para a formalização da disciplina e padronização da formação profissional, sendo que algumas universidades também passaram a incluir na graduação carga horária dedicada a este tema.
Nelson Silva, que há mais de 12 anos dedica boa parte da expertise profissional à digitalização do fluxo, diz que o cenário atual é mais favorável ao sucesso do que no passado. “A literatura era praticamente inexistente e não existiam cursos de formação. Os erros foram inúmeros, como investimentos em equipamentos desnecessários e falta de um plano de negócios bem elaborado. O grande aprendizado foi entender que a tecnologia é uma aliada importantíssima quando associada a conhecimentos técnicos e científicos consistentes”, finaliza.