Luis Antonio Violin Pereira esclarece a biologia básica da incorporação de enxerto ósseo autógeno em bloco, cortical e medular.
Dando sequência à edição passada¹, iremos esclarecer a biologia básica da incorporação dos enxertos ósseos autógenos em bloco, cortical e medular, desta vez enfatizando as semelhanças e diferenças dos eventos ocorridos a partir da segunda semana de realização do enxerto.
Quais fenômenos biológicos ocorrem durante a segunda semana após a realização do enxerto ósseo autógeno em bloco?
Após a formação do coágulo, a proporção de fibras do tecido de granulação aumenta, enquanto o número de células inflamatórias diminui. Em seguida, independentemente do tipo da estrutura do enxerto ósseo em bloco utilizado, a atividade osteoclástica se estabelece com o objetivo de fagocitar as áreas necróticas do enxerto que se formaram, devido às necessidades nutricionais das células dos enxertos não serem acompanhadas pela sua velocidade de revascularização.
Por que a remodelação dos enxertos ósseos autógenos medulares em bloco é mais rápida do que a do cortical em bloco?
De forma bastante sucinta, o fator limitante para o início e estabelecimento da remodelação óssea é a velocidade de revascularização. O enxerto ósseo medular em bloco – a depender da espessura – pode estar completamente revascularizado em quatro semanas². Já o enxerto ósseo cortical em bloco – a depender da espessura – requer o dobro de tempo para se revascularizar (cerca de oito semanas). Esta diferença ocorre principalmente devido à estrutura mais compacta do osso cortical e à grande quantidade de vasos sanguíneos presentes no osso medular. No entanto, uma vez que a revascularização periférica do enxerto ósseo seja estabelecida, a remodelação óssea avança rapidamente³.
Como o processo de incorporação do enxerto ósseo autógeno medular em bloco se diferencia do cortical em bloco?
Conforme esclarecido na resposta anterior, o grau de compactação da estrutura dos dois tipos de tecidos ósseos implica em mecanismos diferentes de revascularização. Além disso, a compactação e disponibilidade de oxigênio (vasos sanguíneos no interior do enxerto) determinam também a sequência de diferentes populações celulares que podem migrar do leito receptor e ocupar estes enxertos (Figura 1).
Qual a importância do estímulo mecânico para a viabilidade do enxerto ósseo autógeno?
Em ambos os enxertos ósseos autógenos em bloco, seja cortical ou medular, a resistência mecânica do enxerto tende a ser proporcional ao estímulo mecânico que a área enxertada recebe. Em Implantodontia, a instalação do implante, a colocação da prótese e a função oclusal aceleram todo o processo de incorporação e remodelação do enxerto ósseo autógeno, permitindo que se torne completamente viável em um reduzido intervalo de tempo (ainda não exatamente conhecido).
TABELA 1 – RESUMO DOS FENÔMENOS DE REVASCULARIZAÇÃO E REMODELAÇÃO DOS ENXERTOS ÓSSEOS AUTÓGENOS EM BLOCO
REFERÊNCIAS
- Pereira LAVD, Costa CFP. Incorporação do enxerto ósseo autógeno – estágios iniciais. ImplantNewsPerio International Journal 2019;6(4):1074-6.
- Burchardt H. The biology of bone graft repair. Clin Orthop Relat Res 1983;(174):28-42.
- Burchardt H, Enneking WF. Transplantation of bone. Surg Clin North Am 1978;58(2):403-27.
- Albrektsson T. In vivo studies of bone grafts. The possibility of vascular anastomoses in healing bone. Acta Orthop Scand 1980;51(1):9-17.
Coordenação:
Luis Antonio Violin Pereira
Professor titular do Depto. de Bioquímica e Biologia Tecidual da Universidade Estadual de Campinas – Instituto de Biologia (Unicamp-IB).
Orcid: 0000-0002-9332-7285.
Colaboração:
Carolina Frandsen Pereira da Costa
Ilustradora; Doutoranda no programa de pós-graduação em Biologia Celular e Estrutural do Instituto de Biologia (Unicamp-IB).
Orcid: 0000-0001-8009-0517.